A Natureza da Cortesia Cristã


CAPÍTULO: A NATUREZA DA CORTESIA CRISTÃ

A etiqueta é a manifestação exterior de uma alma habitada pela Graça, que então ordena o trato consigo, com o próximo e com o ambiente.

1. DA FONTE DAS BOAS MANEIRAS

A verdadeira cortesia transcende a mera etiqueta humana; ela é teológica. Ao contrário da polidez mundana — que muitas vezes visa apenas evitar a censura social ou buscar a estima alheia —, a Cortesia Cristã é animada pelo próprio Espírito de Jesus Cristo.

A motivação do cristão não é o "parecer", mas o "ser": todas as ações devem ser santas e agradáveis a Deus. Ao tratar o próximo com reverência, reconhecemos nele um membro de Jesus Cristo; portanto, honrar o irmão é honrar o próprio Deus. Esta visão sobrenatural transforma o convívio: a modéstia exterior e a conduta honesta tornam-se um reflexo da glória de Deus e uma ferramenta para a salvação das almas, distinguindo a caridade cristã da civilidade pagã.

2. DAS VIRTUDES CORRELATAS

Antes do gesto, existe a disposição da alma. A cortesia cristã exige um equilíbrio fino entre Humildade e Magnanimidade:

Dignidade Filial: O cristão, sendo de "alta linhagem" como filho de Deus que é, deve manter um ar de elevação e grandeza. Isso não nasce da soberba, mas da consciência de sua dignidade ontológica e portanto comportamentos infantilizados, emoções descontroladas, gostos vulgares são incompatíveis com a categoria humana de um filho de Deus.

Humildade Real: Não se deve confundir humildade com sentimentos de inferioridade ou culpa tóxica que tolhem a personalidade (questões que devem ser tratadas com ajuda especializadas, e não naturalizadas). A verdadeira humildade reconhece-se pecadora, mas jamais esquece que é templo do Espírito Santo.

Veracidade e Caridade: A virtude da Justiça exige que o interior corresponda ao exterior. A fala deve ser sincera, rejeitando a mentira como uma "mancha vergonhosa", e a paciência deve ser exercitada através do perdão das injúrias, imitando a mansidão de Cristo.

3. DAS REGRAS DE BOAS MANEIRAS

A aplicação da cortesia é adaptável, ajustando-se aos tempos, costumes e hierarquias, mas mantém sempre os princípios imutáveis de respeito e caridade.

3.1. Boas Maneiras Pessoais

Asseio como Reflexo da Alma: A limpeza do corpo é o sinal sensível da pureza da alma. Negligenciar o banho, usar roupas sujas ou apresentar-se suado fora de contextos apropriados (como circular em mercados com roupas de ginástica usadas) é um desrespeito a si mesmo e ao "Templo" que é o corpo. Na cultura japonesa limpeza é sinal de respeito aos demais e na cultura ocidental sempre esteve ligada à questão da honestidade. Portanto, limpos e bem apresentados sempre, inclusive em casa e mesmo quando estamos sozinhos.

Postura e Vestuário: Evitar tanto a afetação artificial quanto o desleixo. Atenção especial às donas de casa: o relaxamento excessivo na aparência pessoal desonra o lar e colabora para a desarmonia doméstica (um reflexo do vício da Preguiça).

Linguagem Corporal: Manter uma postura que evite a negligência excessiva, refletindo a presença de Deus em seus movimentos.

3.2. Boas Maneiras para com o Próximo

O Falar: A conversação deve ser necessária, útil, prudente e discreta. Devem-se banir a profanidade, a blasfêmia, a fofoca, a detração e a linguagem ofensiva. 

O QUE EVITAR NA CONVERSA:

  1. Palavrões e xingamentos: Não use "nome feio" nem para xingar, nem como vírgula no meio da frase (ex: usar palavrão só para dar ênfase).
  2. Comentários vulgares sobre mulheres: Evite falar do corpo das mulheres, fazer cantadas baratas ou comentários maliciosos ("gostosa", etc.). Isso é falta de respeito, não elogio.
  3. Piadas sujas: Não conte piadas de sexo, de "duplo sentido" ou indecentes. Isso rebaixa o ambiente.
  4. Graça em hora errada: Não faça piadas nem dê risada alta em momentos de dor, como velórios, doenças ou quando alguém conta um problema sério.
  5. Fofoca e Falar mal dos outros: Não fale da vida alheia nem critique quem não está presente para se defender.
  6. Usar o nome de Deus em vão: Não use o nome de Deus em brincadeiras, piadas ou para demonstrar raiva.
  7. Gritaria e Discussão: Não transforme a conversa em briga por causa de futebol, política ou bebida. Falar gritando para impor sua opinião é grosseiro.
  8. Apelidos que ofendem: Não coloque apelidos que humilham a aparência ou algum defeito físico da pessoa.
  9. A gíria excessiva, a fala "malandra", a gritaria tipo feira e a condescendência (tratar o outro como bobo) são sinais de um espírito que não amadureceu, não importa quanto dinheiro tenha no bolso ou se ocupa um cargo importante ou tem conhecimento tecnológico. É preciso sempre ser muito respeitoso ao falar.

O Apoio Emocional ("Emprestar Sentimentos"): A ciência e a religião confirmam: como somos seres sociais e podemos usar a conversa para "emprestar" estabilidade e bons sentimentos a quem está fragilizado, em vez de julgar, criticar ou "regular" o valor dos outros. Veja como fazer isto lendo esta postagem: A Arte de Encorajar os outros através de Respostas Gentis

Perdão: Suportar injúrias com paciência e retribuir o mal com o bem, mantendo a união e a paz.

3.3. Boas Maneiras em Relação ao Evento/Ambiente

Adaptabilidade e Leitura do Ambiente:
A verdadeira educação não é uma fórmula rígida, mas uma sensibilidade viva. O cristão deve "ler" o ambiente e a pessoa à sua frente para não ser inconveniente, ajustando sua conduta:

  • Com a idosa (Caridade): O tom deve ser de paciência e escuta, sem pressa, valorizando a conversa que talvez seja a única alegria do dia dela.

  • Com a chefia (Respeito): O tom exige sobriedade e foco profissional, evitando intimidades que confundam a hierarquia.

  • Com as crianças (Responsabilidade): O foco é o bem delas e o seu desenvolvimento, não a nossa diversão. Devemos instruí-las e confirmá-las com afeto, evitando usar a criança apenas como uma fonte de risadas ou agrados passageiros que não educam.

Propósito das Visitas: As visitas não devem ser frívolas. Devem seguir o modelo de Jesus: motivadas pelo desejo de converter, consolar, curar (ainda que emocionalmente) ou demonstrar amizade sincera. Cada interação social é uma ocasião de apostolado e serviço.









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