O Feedback como Ato de Cuidado
Corrigir alguém, quando feito com respeito e intenção reta, é um gesto de carinho. Pode parecer apenas uma conversa comum, mas, na verdade, é um ato de amor ao próximo. Ter a coragem de chamar alguém de lado para ajudá-lo a crescer — seja corrigindo um detalhe do trabalho, seja em uma atitude que a outra pessoa precisa melhorar — é uma forma concreta de viver a caridade fraterna.
Como Corrigir com Boas Maneiras
Toda crítica corre o risco de magoar, por isso precisa vir acompanhada da delicadeza e da humildade. Corrigir bem não é julgar e nem se pode humilhar. É saber a hora certa, o jeito certo e, principalmente, partir de uma intenção sincera: o bem do outro. Antes de criticar alguém, se recolha em oração para ter certeza de que a intenção, o modo como fará a crítica construtiva é reta, pelo bem do outro, e se estará expressa com a devida caridade fraterna.
Um bom caminho para isso é começar elogiando aquilo que merece ser reconhecido. Todo mundo tem algo de bom, e saber dizer isso em voz alta abre o coração para escutar o que vem depois. Em seguida, é importante validar o que a pessoa sente — especialmente se a conversa tocar em algo delicado — e só então apresentar a correção, com objetividade, sem ironias, e de preferência em particular. Essa ordem não é uma técnica: é uma forma de corrigir com caridade.
Um Exemplo Real e Simples
Lembro de uma reunião em uma empresa onde trabalhei. Três consultores alemães elogiaram o trabalho de um jovem colega dizendo: “Sua explicação do evento está ótima.” Em seguida, com naturalidade, apontaram: “Mas percebemos que o pessoal não entendeu bem a parte financeira.” O tom era calmo, sincero, e tudo foi dito com uma gentileza firme. O jovem ouviu, assimilou e cresceu. O elogio lhe deu ânimo; a crítica o ajudou a melhorar no ponto que ele precisava melhorar. Assim é o verdadeiro feedback: um presente que nos reconhece onde somos bons e nos edifica corrigindo onde precisamos mudar.
Crítica Verdadeira vs. Elogios Vazios
Corrigir com amor não tem nada a ver com aquelas pessoas que distribuem como se estivessem escolhendo produtos no supermercado: “Esse vestido está bonito”, “Você emagreceu”, “Está sempre elegante” — muitas vezes essas frases não são elogios verdadeiros, mas reflexos de vaidade, inveja, despeito ou, no caso de alguns homens mais velhos, até luxúria disfarçada de simpatia.
"Críticas Positivas" assim não ajudam, não elogiam. Pelo contrário: são um modo de se exibir, de usar o outro para projetar suas frustrações ou desejos. Se tivessem tido um amigo sincero, que um dia dissesse com firmeza e afeto: “Toda mulher é um ser humano, filha de Deus, sua irmã em Cristo, não uma imagem para ser aprovada ou comentada”, talvez essas pessoas tivessem escolhido outro caminho — mais nobre, mais digno, mais santo.
Falar Pelas Costas Não Ajuda Ninguém
Corrigir com amor também é ter a coragem de falar diretamente com a pessoa, e não comentar seus defeitos pelas costas. Poucas coisas são tão cruéis quanto ver algo errado e, em vez de ajudar, fazer piada ou fofoca. Quem realmente se importa, fala com o interessado, buscando ajudá-lo. Mas se nos calamos, se não nos importamos ou, pior, desejamos que a pessoa se afunde no erro que começa a cometer, o erro passa a ser nosso — e revela a nossa mediocridade. A caridade fraterna, mesmo na crítica, nos eleva e nos santifica, quando praticada com boas maneiras e reta intenção.
A Dimensão Espiritual da Correção
Antes de corrigir, especialmente como católicos, é importante examinar a nossa intenção em oração. Não basta dizer a coisa certa: é preciso dizê-la pela razão certa — pelo bem da pessoa, e não por orgulho, impaciência ou desejo de controle. A correção fraterna é também um exercício de humildade: é doar-se, não impor-se.
Até mesmo nossas críticas se tornam um meio de santificar a vida cotidiana se feitas com reta razão e de bons modos. Corrigir com caridade é um modo delicado — e poderoso — de transformar as relações em oportunidades de crescimento, verdade e fraternidade.
Sugestão de Leitura
Preciso saber se estou indo bem!: Uma história sobre a importância de dar e receber feedback Richard L. Williams
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